Aécio despencou no
pior momento em que alguém pode despencar numa campanha eleitoral: às vésperas
da ida às urnas. Repete-se com ele no segundo turno o que acontecera com Marina
no primeiro: parecia tão perto o grande prêmio e de repente ele está tão longe.
Pode ocorrer ainda
uma virada? Sim. Mas as possibilidades são meramente matemáticas.
Imagine um jogo de
futebol em que no primeiro tempo o placar seja 5 a 0. Lembrou o Brasil contra
a Alemanha? Sim. Teoricamente, o jogo pode terminar 6 a 5 para a equipe que foi
destroçada nos 45 minutos iniciais. Mas, na prática, é uma chance
estatisticamente insignificante.
A ascensão de Dilma
tem bases sólidas demais para sua candidatura desabe a esta altura. Sua
aprovação aumentou expressivamente depois dos programas eleitorais, em que ela
pôde mostrar obras que a mídia ignorou ao longo dos últimos quatro anos, ou por
inépcia ou por má fé, ou por ambas as coisas.
Ao mesmo tempo, a
rejeição a Aécio disparou. Mesmo com todo o antipetismo vigente no país, e
alimentado pela mídia, Aécio é agora mais rejeitado que Dilma.
A agressividade dele
nos debates contra Dilma aparentemente só agradaram os chamados pitbulls. A voz
rouca das ruas, mostram as pesquisas, não achou bonito um candidato ser tão
desrespeitoso com uma senhora mais velha que ele, e ainda mais sobrevivente de
um câncer.
O ser humano é assim,
desde sempre, e é incrível que a equipe de Aécio não o tenha orientado a ser
menos grosseiro e mais civilizado.
O grande liberal
britânico Burke, um crítico desde sempre da Revolução Francesa, jamais aceitou
a maneira como os homens da França trataram Maria Antonieta. Ele falou da
“covardia” masculina francesa com cintilante indignação. Para Burke, a visão de
uma mulher acossada pela força de um homem era um pecado irreparável. Um dos
motivos de seu ódio da Revolução residiu no “déficit civilizatório” dos
franceses.
Nossos liberais não
devem ler Burke, e é uma pena para eles.
Agora, Aécio fica na
seguinte situação. Se for agressivo, vai ser ainda mais rejeitado, sobretudo
pelas mulheres — grupo que reúme o maior número de indecidos.
Se baixar o tom, as
coisas tenderão a ficar exatamente como estão, com ele atrás.
Não há marqueteiro
capaz de encontrar resposta para este dilema enfrentado por Aécio quando os
brasileiros já começam a tirar seus títulos de eleitor da gaveta.
Publicado por Paulo
Nogueira no DCM