A candidatura do senador Aécio Neves (PSDB), que concorre à
Presidência da República, começou a viver, nesta terça-feira, o seu pior
pesadelo neste segundo turno das eleições. A campanha de Neves acordou com a
notícia de novas delações premiadas sobre a participação de parlamentares
tucanos na roubalheira promovida por uma quadrilha especializada, na Petrobras,
ao longo de mais de uma década. Não bastasse este ruído matinal, os
coordenadores de campanha do político mineiro foram dormir com os números da
última pesquisa Datafolha, que colocam a candidata adversária, presidenta Dilma
Rousseff, “numericamente à frente” na corrida presidencial.
O desempenho de Dilma Rousseff foi impulsionado, pela
melhoria de seu desempenho no Sudeste – região de maior densidade populacional
do país –, onde ela alcança 52% das intenções de votos válidos, sem contar os
votos nulos e em branco. Neves aparece com 48%. Segundo a pesquisa, trata-se de
“um empate técnico no limite máximo da margem de erro, de dois pontos para mais
ou para menos”. O empate, porém, somente ocorre se for considerada uma
combinação de dois extremos da margem de erro: “A probabilidade maior é que
Dilma esteja mesmo na frente”, começa a admitir o Datafolha.
No Rio de Janeiro, onde Dilma ultrapassou o adversário
tucano, a tendência é a candidata petista liderar a virada nos quatro Estados
do Sudeste, nos próximos dias, após o comício que realizará, na noite desta
quarta-feira, na Cinelândia, Centro da capital. Na Região Sudeste, Dilma subiu
de 34% para 40% no intervalo de apenas 11 dias. Outro avanço relevante no
período foi entre as mulheres, de 42% para 46%. Na TV e nas redes sociais,
Dilma explorou o fato de que Aécio ser agressivo com as mulheres, após chamar a
presidenta de “leviana”, com o dedo em riste, no debate organizado pela rede de
TV SBT.
Nas faixas de renda, Dilma vence entre os mais pobres (até 2
salários mínimos) de 55% a 34% dos votos totais. Na faixa seguinte (2 a 5 salários), a dianteira de
11 pontos de Aécio registrada na pesquisa anterior recuou para três (46% a 43%,
um empate técnico). O tucano vence apenas entre os grupos mais ricos e, mesmo
nesta faixa, começa a ser ameaçado pela rejeição, que é numericamente maior que
a rejeição de Dilma: 40% dos eleitores dizem que não votam no tucano “de jeito
nenhum”. Com Dilma, a taxa é de 39%. O Datafolha ouviu 4.389 eleitores. Todas
as entrevistas foram feitas na véspera.
Bordão da Petrobras
Quando iniciou sua campanha, um dos bordões do candidato
Aécio Neves era o da corrupção na Petrobras, após as delações do ex-diretor da
empresa Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, que apontaram a
participação de políticos de legendas que integram a base aliada ao governo da
presidenta Dilma Rousseff. Na noite passada, porém, um auxiliar do doleiro
Alberto Youssef disse, em depoimento à Justiça federal, que outros
parlamentares do PSDB receberam propina do esquema; além do senador Sérgio
Guerra, morto em março deste ano.
A informação foi passada aos jornalistas por Haroldo Nater,
advogado que defende o empresário Leonardo Meirelles, acusado de ter feito
remessas ilegais para o doleiro. Meirelles não foi autorizado pelo juiz Sergio
Moro a citar nomes, mas ofereceu indícios de quem seria um dos parlamentares do
PSDB. Segundo Nater, ele era da mesma região de Youssef que operava em
Londrina, no Paraná.
O juiz também não autorizou a menção a nomes de deputados e
senadores porque eles têm direito a foro privilegiado e somente o Supremo
Tribunal Federal (STF) tem poder para investigá-los. Meirelles, ainda segundo
seu advogado, soube desses pagamentos porque frequentava o escritório de
Youssef na região em São Paulo. Meirelles é um dos donos da Labogen, uma das
empresas que foi usada pelo doleiro para remeter US$ 444,7 milhões ao exterior,
o equivalente hoje a R$ 1,1 bilhão.
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa foi o primeiro
a indicar a presença de altos líderes na hierarquia tucana no saque aos cofres
da Petrobras. Ele citou Guerra em seu acordo de delação premiada como
beneficiário de propina para esvaziar a CPI da Petrobras, no final de 2009. À
época, Guerra era presidente do PSDB.
Tem gente graúda
Segundo Leonardo Meirelles, em seu depoimento, Youssef era o
chefe do esquema de lavagem de dinheiro, ainda segundo o seu advogado.
– Youssef tinha poder de mando, dirigia as operações e
falava com as empreiteiras. Claro que era o chefe – afirmou Nater às
autoridades.
Durante interrogatório, que veio a público nos últimos dias,
o doleiro disse que não comandava o esquema:
– Não sou mentor ou chefe da organização criminosa. Tinha
gente mais elevada, inclusive acima do Paulo Roberto Costa, no caso agentes
públicos – disse. Agentes públicos tratava-se de um eufemismo para políticos.