Você pode se perguntar: por que a mídia apoia tão
intensamente Aécio?
Uma visão mais romântica traria a seguinte resposta: porque
há uma identidade entre a ideologia de Aécio e a dos donos das grandes
companhias jornalísticas.
Mas a verdade é bem menos romântica.
Eleger Aécio, um amigo íntimo dos barões da imprensa,
representa esplêndidas oportunidades econômicas.
Nada contra isso – não fosse o fato de que estas
oportunidades são à base de dinheiro público.
Dinheiro seu, meu, de todos nós.
Primeiro, e acima de tudo, os bilhões da publicidade
federal. Aqui, o PT cometeu um grande pecado, ao não fazer mudanças que
beneficiassem a sociedade, e não perpetuassem privilégios de quatro ou cinco
famílias.
No mundo dos negócios, você usa a expressão “base zero”
para designar orçamentos que vão ser inteiramente refeitos.
Se isso fosse feito na publicidade federal, você se faria
logo perguntas como a seguinte: faz sentido colocar 150 milhões de reais por
ano no SBT?
Claro que não. Sobretudo na Era Digital, para a qual as
estatais demoraram uma eternidade para acordar.
Mas a questão só foi aparecer quando Rachel Sheherazade
defendeu entusiasmadamente justiceiros.
Numa concessão pública, e numa emissora bancada por
dinheiro do contribuinte, Sheherazade contribuiu histericamente, todos os dias,
para a causa da iniquidade no Brasil.
Sheherazade é símbolo de algo que vai muito além dela e do
SBT. É um galho de uma árvore.
O mesmo quadro, amplificado, se repete na Globo. São 600
milhões de reais que, no fim, sustentam um jornalismo feito para manter as
raízes que fizeram do Brasil um campeão da desigualdade.
É uma das maiores ironias do jornalismo político nacional
que personagens como Jabor, Merval e tantos outros do gênero sejam,
indiretamente, pagos com dinheiro público.
Compare tudo isso com o que faz a Fox de Murdoch nos
Estados Unidos. O teor é de direita, mas nem a Fox é uma concessão e nem recebe
fabulosas injeções de dinheiro público, pela publicidade.
Voltemos ao SBT, apenas porque começamos por lá. A partir
da base zero, qual seria a quantia justa, em propaganda federal, a ser colocada
na emissora de Sílvio Santos?
Um terço, um quarto do que vem sendo colocado? Campanhas de
utilidade pública, tudo bem. Uso sensato de verbas em estatais que competem no
mercado, como o Banco do Brasil.
E pronto. Não mais que isso.
Você romperia, assim, o duto que conduz, há décadas,
dinheiro público para as grandes empresas jornalísticas – e logo para as contas
pessoais de seus donos. Não é à toa que a família Marinho é a mais rica do
Brasil.
Você daria também um choque de capitalismo na mídia, que
sempre dependeu inteiramente do Estado para se sustentar. Não apenas com
publicidade federal, estadual e municipal, mas também com empréstimos a juros
maternais no BNDES e outros expedientes como a venda de livros e isenções
fiscais. (Não incide imposto, para ficar num caso, sobre o papel usado em
jornais e revistas.)
E tão importante quanto tudo que foi dito atrás: as
empresas jornalísticas deixariam de ter um interesse tão brutal em quem está no
Planalto.
Consequentemente, todas essas armações que se repetem
quando bate medo nos donos da mídia de que os privilégios acabariam – porque já
não faria diferença se o candidato A ou B se elegesse.
A sociedade apoiaria uma reforma no uso da publicidade
governamental porque seria a principal beneficiária disso.
Com Dilma, talvez se faça alguma coisa para reduzir a
dependência da mídia em relação ao governo, ou talvez não.
Com Aécio, certamente nada se fará.
É por isso que as empresas jornalísticas estão tão
empenhadas em eleger Aécio.
Este artigo foi publicado também em minha página no JusBrasil
http://amorimsanguenovo.jusbrasil.com.br/artigos/145005628/por-que-a-midia-esta-tao-empenhada-em-eleger-aecio