Represa Jaguari, integra o Sistema Cantareira |
Prezado Jerson Kelman,
Não nos conhecemos pessoalmente, mas estamos em lados
opostos: você como diretor da SABESP e eu como crítico da empresa.
Assim como imagino que você concorde com a maioria os meus
comentários, especialmente meu inconformismo em sua empresa ter 49,7% de
capital privado sugando lucros e interferindo na gestão hídrica de toda uma
metrópole; eu admito considerar você o melhor profissional para ocupar o cargo
de direção da empresa, pelo seu grande conhecimento técnico e institucional do
setor. Seu profissionalismo deve envergonhar seus trágicos antecessores que
criaram uma situação dramática a levar a cidade inteira para o bueiro. O
problema em suas mãos é incomensurável e eu não gostaria de estar na sua
posição.
No entanto, gostaria de pedir aqui esclarecimentos sobre
questões de saúde pública para a população. Peço-te que deixe de lado a
demagogia que caracterizaram as gestões anteriores e tão bem define também
nosso atual governador e as demais instâncias governamentais. A pergunta é,
basicamente, uma só e espero dados científicos, comprovações irrefutáveis, sem
bravatas políticas: a água abastecida pela Sabesp ainda pode ser considerada
potável?
1- A qualidade dos “volumes mortos” tem sido
sistematicamente testada, incluindo poluentes quase invisíveis como os
materiais inorgânicos solúveis, como hormônios e medicamentos? Estamos diante
de águas mais suscetíveis a essas interferências, correto?
2- A qualidade da água no destino final (consumidor) está garantida mesmo com as perigosas reduções de pressão da rede que permitem entrada de poluentes do lençol freático no sistema? Esses testes são feitos em vários pontos por quarteirão, em todos os quarteirões da cidade? Você sabe que a pressão da água no lençol freático, assim como a condição da rede e a qualidade da água subterrânea podem variar muito. A qualidade da água é igual em toda a cidade?
2- A qualidade da água no destino final (consumidor) está garantida mesmo com as perigosas reduções de pressão da rede que permitem entrada de poluentes do lençol freático no sistema? Esses testes são feitos em vários pontos por quarteirão, em todos os quarteirões da cidade? Você sabe que a pressão da água no lençol freático, assim como a condição da rede e a qualidade da água subterrânea podem variar muito. A qualidade da água é igual em toda a cidade?
3- Estão ocorrendo cortes totais. Como a qualidade da água
está sendo mantida sem infiltração do lençol freático nesse caso? Se a
pressurização está sendo feita com ar, como garantir que isso não gire
medidores de consumo, mesmo sem água?
4- A Sabesp considera a oscilação nas caixas d’água por
causa dos frequentes desabastecimentos um fator relevante para aumento de
contaminação?
5- Os braços poluídos da represa Billings estão sendo usados para abastecimento? Como a qualidade de água pode ser garantida nesses casos, já que a extração nessas áreas sempre foi, historicamente, considerada perigosa? Houve melhorias nas estações de tratamento para isso?
5- Os braços poluídos da represa Billings estão sendo usados para abastecimento? Como a qualidade de água pode ser garantida nesses casos, já que a extração nessas áreas sempre foi, historicamente, considerada perigosa? Houve melhorias nas estações de tratamento para isso?
6- Por que a Sabesp continua baseando seu tratamento em
cloro, já que essa técnica já foi proibida na maioria dos países desenvolvidos,
inclusive União Europeia? Existe a possibilidade no aumento da incidência de
câncer na população por causa de uso massivo de cloro?
Por fim, gostaria de saber se, frente a esses riscos (ou a
confluência deles), não seria prudente e responsável recomendar à população que
não beba a água da torneira, mesmo com o uso de filtros domésticos. É uma
questão de saúde pública, não é possível se privar da responsabilidade em
responder essas questões de forma precisa.
Atenciosamente,
Gabriel Kogan
Por Gabriel Kogan, do site Cosmopista.