A
agricultora trabalhava, de sol a sol, em busca do sustento, em minúscula
propriedade rural familiar. Um dia acidentou-se num trator e perdeu o dedo
mínimo da mão esquerda.
Levada
sucessivamente a um posto de saúde e a dois hospitais, a mulher teve afinal um
antiestético arranjo cirúrgico feito na mão. Após a alta, sentiu que perdera
quase todos os movimentos do membro. Pediu administrativamente verbas
previdenciárias; o INSS negou tudo.
O
caso foi à Justiça Federal em cidade gaúcha. Houve perícia e o louvado
manifestou-se no sentido de que a ablação do dedo menor da mão esquerda não
compromete o labor da autora, que é destra.
Houve
a designação de audiência para a oitiva do médico-perito.
-
Sejam bem-vindos o procurador do INSS e a nobre advogada da autora que, pelo
que vejo, é visitante na comarca disse, em voz afável, a jovem magistrada
federal. Esta, apesar de se expressar gentilmente, exibia feições de
sobriedade.
Antes
do depoimento, a juíza concitou os presentes à conciliação, que o INSS
rechaçou.
Chamado,
o perito-médico ingressou na sala de audiências com as mãos nos bolsos e,
distante, cumprimentou os presentes. Em seguida, ele foi minuciosamente
interrogado pela magistrada, além de responder a dezenas de indagações dos
advogados.
A
advogada da autora chegou a invocar um precedente do saudoso desembargador
gaúcho Márcio de Oliveira Puggina, pedindo que o trecho de um aresto seu fosse
transcrito na assentada: se o dedo mínimo fosse desnecessário, seguramente o
Criador não haveria de tê-lo colocado nas mãos humanas.
A
juíza acedeu.
-
Diga-nos, doutor perito: por que o senhor está convicto de que a falta do dedo
mínimo de uma das mãos em nada prejudica os afazeres de uma agricultora?
Solicitou a magistrada.
O
médico tirou ambas as mãos dos bolsos do jaleco, levantou-as como troféus e
respondeu exclamativo:
-
Eu sou como o Lula; nós dois não temos o quirodáctilo mínimo da mão esquerda.
Ele chegou a presidente da República e eu sou médico e perito militante.
Explico assim, exemplarmente, porque a falta do popular dedo mindinho não
prejudica os humanos!...
Os
presentes se olharam incrédulos e, em menos de cinco minutos, a magistrada
obteve a concordância do procurador do INSS à conciliação, aceitando pagar a
metade dos meses em atraso e comprometendo-se ao pensionamento mensal vitalício
(R$ 800), a partir da data da audiência.
Cabisbaixo,
o médico saiu como chegara: com ambas as mãos enfiadas nos bolsos do seu jaleco
branco.
Publicado
por Espaço Vital no JusBrasil - Imagem editada por Amorim Sangue Novo