O
leitor Humberto Sá Telles pergunta: “Não é um absurdo o governo da presidente
Dilma Rousseff pagar uma fortuna para blogueiros, como Luís Nassif (5,7 milhões
de reais) e Paulo Henrique Amorim (2,6 milhões de reais), defendê-lo?”
Os críticos mencionam mais Luís Nassif e Paulo Henrique Amorim — porque fazem uma defesa articulada do governo petista e uma crítica corrosiva das oposições, notadamente do PSDB, e de seus defensores —, mas dezenas de outros blogueiros recebem verbas públicas do governo petista (e de outros governos, alguns não-petistas). Os blogs dos dois jornalistas mais criticados pelo menos têm audiência. Há outros que quase não têm audiência, mas recebem recursos dado o alinhamento político.
Mas o grosso dos recursos fica mesmo com os “monopólios”, como Grupo Globo (TV Globo, “O Globo”, “Época”), Editora Abril (que publica “Veja” e “Exame”) e “Folha de Paulo” (o grupo tem outras publicações e dirige o UOL e, em associação com parte da família Marinho, o jornal “Valor Econômico”). “CartaCapital”, cujo diretor de redação, Mino Carta, é profundamente identificado com o governo petista e com os principais líderes do partido, sobretudo com Lula da Silva, recebe muito dinheiro, mas nada equivalente aos grandes grupos.
Fica-se com a impressão de que,
ao contrário do governo de Fernando Henrique Cardoso — que priorizava os
grandes grupos econômicos, daí ser o queridinho das redes de televisão e dos
jornais e revistas de Rio e São Paulo —, o PT democratizou a distribuição dos
recursos publicitários. De fato, os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff
repassaram recursos para mais publicações, mas isto não significou
necessariamente uma democratização. A maioria do dinheiro continua sendo
distribuída para as publicações que não aceitam, de maneira alguma, a
democratização da publicidade e dos recursos, considerando, por exemplo,
regiões. A “Folha de S. Paulo”, mesmo com a internet, não é um jornal nacional,
ao contrário do que propala. Em Goiás e no Mato Grosso, para citar dois
Estados, não é o meio de comunicação mais importante. Mas os jornais dos dois
Estados, mesmo com forte circulação e amplo acesso na internet, raramente são
contemplados com verbas federais (mesmo com migalhas) destinadas à comunicação.
Por
fim, respondendo diretamente à pergunta do leitor, absurdo não é o faturamento
de Luís Nassif e Paulo Henrique Amorim, e sim a concentração da maioria dos
recursos públicos da área de comunicação nas mãos de quatro ou cinco grandes
grupos. O PT, na prática, não teve coragem de romper com os monopólios, que
sempre publicam reportagens sobre o assunto, ressaltando que há blogs com
faturamento “alto” mas com baixa audiência (a audiência, em alguns casos, é
crescente, ainda que certos blogs “preguem” para convertidos saírem
repercutindo as boas novas nas redes sociais), com o objetivo de manter o
controle do dinheiro destinado à comunicação dos atos do governo. Não há
nenhuma preocupação com moralidade ou ideologia. É puro business, e dos mais
agressivos. Luís Nassiff e Paulo Henrique Amorim, ainda que exagerem na defesa
do governo petista e nas críticas aos tucanos, são uma gota d’água no oceano…
Postado
originalmente no Jornal Opção
Nenhum comentário:
Postar um comentário