Por Clara Lúcia do Simples e Clara
Roberta, louca para chegar em casa, encara um engarrafamento
quilométrico num fim de tarde, começo da noite, buzinas, poluição, gritos,
motos barulhentas e calor, muito calor.
Liga o rádio e ouve Dire Straits com aquele som de guitarra
inconfundível. Começa a cantar tentando relaxar e esperar que a fila de carros
ande de uma vez por todas.
Olha para o lado e o vidro do carro do lado abaixa. Um homem
começa a olhá-la primeiro com óculos escuros, depois por cima dos óculos. Olhos
negros penetrantes... Logo em seguida um sorriso, lindo!
Roberta vê que ele
aumenta o som de seu carro e que também ouve Dire Straits, uma outra canção.
Ela desvia o olhar e se concentra em um ponto qualquer à sua frente. Mesmo
assim é inevitável não sentir o olhar do homem lhe queimando o rosto. Não
resiste e o olha de vez em
quando... Ele sempre olhando e sorrindo, agora sem os óculos
escuros.
Sua imaginação voa... E já se vê dentro daquele carro, do
lado daquele homem desconhecido, com todo aquele calor lhe subindo pelo ventre.
Roberta, para provocar, levanta o vestido até a altura das
coxas e também uma perna, de propósito, só para que ele lhe veja. E ele vê! E
faz um biquinho como se lhe mandasse um beijo e aperta um pouco os olhos,
ficando com uma cara de safado.
Ainda se imaginando dentro daquele carro, ele então começa a
correr sua mão em sua coxa... Se ajeita no banco, de forma que fique quase meio
deitado, e de pernas entreabertas...
O trânsito anda uns 20 metros e Roberta
aumenta o som do carro, agora uma outra música, e olha para o lado enquanto ele
para no mesmo rumo do meu carro, de novo. Que bom!
Roberta fecha os olhos e sua imaginação continua, então ela
se senta no colo daquele desconhecido, de frente, e começa a beijá-lo
alucinadamente... Ele, com aquelas mãos enormes, abaixa seu vestido, acha seus
seios e começa a beijá-los... Era como se ele voltasse à infância e estivesse
faminto por alimento.
Beija-lhe a boca com paixão, desarruma seus cabelos, lhe
pega pelo pescoço e percorre sua boca por todo o colo, os seios, volta para sua
boca e lhe arranca o fôlego... Lhe aperta contra seu corpo deixando-a imóvel,
puxa seus cabelos para trás e fixa os olhos nos dela... Olhos sedentos de
desejo....
Alguém bate no vidro do carro. Roberta abre um pouco e vê um
menino vendendo água. Água geladinha....
Olha para o lado e ele continua olhando-a, sorrindo e
mexendo no volume do rádio.
Ela bebe a água e deixa escorrer um pouco sobre seu corpo.
Ele vê isso e faz um gesto com a cabeça como se quisesse dizer: "não
acredito!"
Ela fecha o vidro de novo e também os olhos e sonha
acordada... Volta para o colo dele, que começa a gemer e a dizer coisas
incompreensíveis; lhe segura nos cabelos
e beija seu pescoço, o suor escorrendo pelos seus seios... O mundo para! Só os
dois ali, naquele sexo sem limites, naquela vontade de um entrar dentro do
outro e nunca mais sair...
Uma buzinada atrás do carro de Roberta a faz ver que a fila
andou mais uns metros. Ofegante. O desconhecido lhe olhando, lhe mostrando o
celular, acenando e falando algo que ela não entendia. Apenas retribui com um
sorriso. A fila anda mais um pouco e ele para bem à frente do carro dela.
Roberta revira o porta-luvas e acha caneta e papel. Anota a placa. Ele fica
olhando para trás procurando-a e acenando com a mão.
Roberta fecha os olhos e volta naquele lugar do pecado,
dentro do carro daquele homem desconhecido, másculo e que a leva ao delírio...
Continua o sexo, beija aquela boca, volta para seus seios, depois dá
mordidinhas em sua orelha... E explode num urro de satisfação. Ela fica olhando
aquele rosto tão próximo do dela, aquela boca quente, aquele hálito, aquele
cheiro de sexo que se espalha; ela não resiste! Seu coração dispara...
Ela dentro de seu carro e ele à frente lhe acenando e
sorrindo, querendo dizer algo...A fila anda mais um pouco e ele some, entre os
carros... Que pena!
Depois de um bom tempo, depois que todo aquele aglomerado de
carros se acaba, ela o vê parado no acostamento, em pé fora do carro, lhe
esperando passar. Acena com as mãos e ela não resiste e para mais à frente, sai
do carro e vão de encontro um do outro. Eduardo, o nome do desconhecido.
No íntimo, Roberta sabia que suas fantasias não seriam só fantasias.
Ela sabia que algo mais aconteceria. E aconteceu! Não dentro do carro, não naquela
hora e nem naquele dia. Foram se conhecendo aos poucos, dia a dia até se
entenderem e confirmarem uma fantasia que se viveu a dois, cada um com seus
desejos e suas vontades. Duas fantasias que se uniram, agora olho no olho, pele
na pele.
Título: Amorim Sangue Novo – Imagem: Google
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