Dos apelidos de Lula e Dilma a Delcídio e João Santana nus dentro de
uma sauna, os momentos mais inusitados dos relatos dos marqueteiros
As delações premiadas do casal de marqueteiros João
Santana e Mônica
Moura miraram
nomes estrelados da era petista no Palácio do Planalto, como os ex-presidentes Luiz
Inácio Lula da Silva e Dilma
Rousseff, e os ex-ministros da Fazenda Antonio
Palocci e Guido Mantega, além de
prefeitos e senadores do PT que tiveram a assinatura de Santana em suas
campanhas.
Além de histórias cabeludas de nomes de peso do
petismo, os relatos do casal ao Ministério Público Federal, todos registrados em vídeo,
também são pródigos de momentos inusitados e curiosos.
Mônica
Moura relatou ao Ministério Público Federal que João Santana pedia a ela para
evitar anotar nomes de políticos em sua agenda. Foi assim que nasceram os
apelidos citados pela marqueteira em sua delação premiada: Lula era conhecido
entre o casal como “Pavarotti” por ostentar barriga saliente e barba volumosa;
Antonio Palocci era chamado de “Mineiro” por sua personalidade discreta;
Juscelino Dourado, ex-assessor de Palocci, ficou conhecido como “Madre” por ser
“religioso, certinho, tipo coroinha de Igreja”; Guido Mantega acabou
infamemente apelidado de “Laticínio” e Dilma Rousseff, nomeada singelamente
como “Tia”.
Pelado
com a mão no bolso
João Santana narra que, em 2002, o ex-senador
Delcídio do Amaral o chamou até sua casa, em Campo Grande (MS), e lá pediu ao
publicitário que assumisse o marketing de sua campanha ao Senado. Lá pelas
tantas, Delcídio achou por bem convidar Santana a uma visita à sauna da residência,
onde poderiam negociar mais à vontade. Foi lá que o então petista, já sem roupas,
passou a consultar João Santana sobre como seria sua remuneração. “Talvez ele
tivesse receio de que eu pudesse ter alguma coisa para gravar. Ele começou a
conversar ‘esse pagamento tem que ser oficial? Não oficial? Qual é o custo?”,
relatou.
A secretária
paga
Segundo Mônica Moura, a ex-presidente Dilma Rousseff
ficou impressionada com os serviços prestados pelo cabeleireiro Celso Kamura durante as eleições de 2010 e, depois
de eleita, passou a requisitar a presença dele em Brasília com frequência.
As
primeiras quatro diárias de Kamura no Palácio da Alvorada, que custaram 1.500
reais cada, no entanto, não foram pagas nem por Dilma, nem por Mônica, nem pelo
sofrido contribuinte brasileiro. De acordo com a delatora, quem coçou o bolso e
desembolsou os 6.000 reais foi Marly, uma das assessoras da petista, que tirou
o valor das próprias economias.
Responsável
pelo custeio dos penteados de Dilma assinados por Celso Kamura entre 2010 e
2014, Mônica garantiu ter reembolsado a funcionária por meio de depósitos
bancários.
Um
baiano muito suspeito
Mônica
Moura e André Reis Santana, funcionário dela e do marqueteiro João Santana,
relataram em suas delações premiadas o roubo de uma mala recheada com 1,5
milhão de reais em dinheiro vivo, supostamente pago pela Odebrecht como caixa
dois da campanha de Dilma Rousseff em 2014. A bagagem foi roubada de dentro do
táxi em que auxiliar dos marqueteiros embarcou depois de coletar a pequena
fortuna. Segundo Santana, dois carros interceptaram o táxi e desceram deles
homens vestidos de preto. Os bandidos exigiram que ele os acompanhasse e
pegaram a mala no porta-malas.
Como
o dinheiro havia sido entregue a André Santana em um hotel de São Paulo pelo
lobista Fernando Baiano e só os três sabiam da operação, Mônica disse ter
desconfiado de uma provável armação de Baiano. Segundo a delatora, o operador a
orientou a não comunicar o roubo ao diretor do departamento de propinas da
Odebrecht, Hilberto Mascarenhas, e garantiu a ela que o dinheiro seria reposto
– o que nunca aconteceu integralmente.
Feira?
Eu?
Cliente
frequente dos serviços do departamento de propinas da Odebrecht, encarregado de
fazer pagamentos de caixa dois pela empreiteira no exterior, Mônica Moura era
conhecida dentro da empresa pelo apelido de “Feira”, referência à cidade onde
ela nasceu, Feira de Santana (BA), e ao sobrenome de seu marido, o marqueteiro
João Santana.
Em sua delação premiada, contudo, Mônica relatou que
Fernando Migliaccio, um dos principais operadores dos pagamentos ilícitos da
Odebrecht, escondeu dela o significado do apelido nas planilhas de caixa dois da
empreiteira.
“‘A
gente aqui tem apelidos, Feira é uma modalidade de pagamento. Toda vez que é
campanha presidencial, é via Feira, quando é campanha de deputado, que a gente
ajuda bastante, tem outra modalidade'”, teria dito a ela Migliaccio, em um
encontro em que a mulher de Santana notou a palavra em um documento e quis
saber do que se tratava.
Mônica
confiava tanto no executivo, responsável pelo envio de milhões de dólares a uma
conta mantida pelo casal na Suíça, que duvidou até dos rumos da investigação da
Lava Jato, mas jamais da palavra de Migliaccio. “Quando fui presa e comecei a
ouvir um burburinho de ‘você é Feira, você é Feira’, eu lembrei disso e pensei
‘gente, isso não é verdade, eles estão indo pelo caminho errado, esse não é o
apelido de ninguém'”, relatou.
Iolanda
gosta de vinhos e rascunhos
Ao elaborar o codinome do e-mail fictício 2606iolanda@gmail.com, criado para
comunicação emergencial entre Dilma Rousseff, Mônica Moura e João Santana, a
ex-presidente se inspirou no nome de Iolanda Costa e Silva, mulher do
ex-presidente Costa e Silva. Nos e-mails, que nunca eram enviados, mas salvos
na página de rascunhos, Dilma se valia de metáforas para informar o casal de
marqueteiros sobre o avanço da Operação Lava Jato. “O seu grande amigo está
muito doente. Os médicos consideram que o risco é máximo, 10. O pior é que a
esposa, que sempre tratou dele, agora está com câncer e com o mesmo risco. Os
médicos acompanham os dois, dia e noite”, escreveu a petista ao alertá-los de
que a prisão era questão de tempo.
Ainda
mais inusitadas que as metáforas dilmistas eram as mensagens mandadas por seus
assessores aos celulares de Mônica e Santana como senhas para que eles
acessassem o tal e-mail: “Veja aquele filme”, “Gostei do vinho indicado”.
No
jardim ninguém ouve
Mônica
Moura contou aos procuradores do Ministério Público Federal como Dilma
preservava o sigilo ao tratar de assuntos ilícitos no Palácio da Alvorada.
Enquanto uns preferem negociatas em saunas, como o ex-senador Delcídio do
Amaral, a ex-presidente optava por abordar temas tenebrosos durante passeios
sutis no jardim da residência oficial da presidência. “Precisamos manter
contato frequente de uma forma segura para que eu lhe avise sobre o andamento
da operação [Lava Jato]. Estou sendo informada de tudo frequentemente pelo José
Eduardo Cardozo [então ministro da Justiça]”, disse Dilma a Mônica em uma
destas caminhadas.
Postado originalmente no Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário