01 maio 2017

O trabalho na existência humana

Pensar no trabalho é algo motivador em nossos dias, pois nossa identificação dentro da coletividade em muito é feita pela condição laboral que estamos envolvidos. A ocupação funcional que o sujeito possui é parte constitutiva de sua subjetividade numa roupagem altamente simbólica, vai muito além do enquadre mercadológico da sociedade capitalista.

A atividade humana de transformar a natureza através de cada momento da marcha humana tem as suas especificidades. O vocábulo trabalho evoluiu etimologicamente do termo latino “Tripallium” - aparelho de tortura composto por três (tri) paus (pallium). Dessa maneira, originalmente, “trabalhar” denotava ser atormentado no tripallium. Quem eram os torturados? Os escravos e os pobres que não conseguiam pagar os impostos. Assim, quem “trabalhava”, naquela época, eram os indivíduos depostos de recursos. Muito se evolui, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido, se observarmos que em média devemos trabalhar mais de cinco meses no ano para o pagamento de impostos na Pátria Tupiniquim .

No dia 01 de maio é comemorado o Dia do Trabalho. Christophe Dejours, considerado o pai da psicodinâmica do trabalho, adota uma visão onde o trabalho não é enlouquecedor (mas como algo que pode arrastar o homem a dor psíquica dependendo do lugar e maneira de labor em que está inserido), na tentativa de fugir do adoecimento ocupacional, os trabalhadores se blindam dos efeitos negativos e patológicos do ambiente de trabalho a sua saúde mental, através de vários mecanismos de defesa.

Passamos muito tempo de nossa existência nas atividades produtivas, é importante olharmos este espaço como um local onde carinho, cuidado, dor e sofrimento se misturam numa simbiose muito forte. Entender o homem passa pela percepção que o trabalhador tem de si, e como o outro o enxerga, e o resultado que advém desta equação.

            Ás vezes o trabalhador passa a ser mais reconhecido pela sua função (médico, carpinteiro, professor, mecânica, policial etc.) do que por sua essência. Entender este mecanismo é importante para uma melhor compreensão das singularidades humanas. Não se deve reduzir o ser ao modo que ele “funciona” na sociedade, pois o dia que ele não estiver com as suas operacionalidades a contento será substituído ou rejeitado.

O descarte pode ocorrer de maneira individual ou coletiva. Individual são as demissões de trabalhadores que para o “bem da empresa” são dispensados, atualmente o IBGE coloca numa cifra de 13%. Coletiva é o sumiço de profissões devido à modernização e reestruturação produtiva, como por exemplo: cocheiro, datilógrafo, leiteiro, pianista de cinema, amolador de facas etc.
O que importa compreender é que o complicado tecido social da massa de trabalhadores é reduzido e despersonalizado numa desafetivação do homem, que aparece a partir da deterioração expandida do mundo do trabalho e a validade da acumulação por espoliação da força de trabalho. O conjunto de coibições e apropriações de habilidades, afinidades sociais, conhecimentos, costumes e crenças, além da apropriação de realizações sociais e culturais as mais diversas, sedimentam a predação e a cultura do temor que compõe um ambiente social e emocional favorável para as aceitações ilegítimas do modelo produtivo explorador da pós-modernidade ocidental.


É um imperativo categórico o entendimento de que por trás de um profissional existe um sujeito que tem as suas necessidades físicas e emocionais para serem supridas e um homem ou mulher que têm sonhos a serem realizados nesta curta e empolgante jornada na Terra chamada existência, ou seja, vida.

Texto: Aguinaldo Adelino Carvalho
Imagem ilustrativa: Google

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