Pensar no
trabalho é algo motivador em nossos dias, pois nossa identificação dentro da
coletividade em muito é feita pela condição laboral que estamos envolvidos. A
ocupação funcional que o sujeito possui é parte constitutiva de sua
subjetividade numa roupagem altamente simbólica, vai muito além do enquadre
mercadológico da sociedade capitalista.
A atividade
humana de transformar a natureza através de cada momento da marcha humana tem
as suas especificidades. O vocábulo trabalho evoluiu etimologicamente do termo
latino “Tripallium” - aparelho de tortura composto por três (tri) paus
(pallium). Dessa maneira, originalmente, “trabalhar” denotava ser atormentado
no tripallium. Quem eram os torturados? Os escravos e os pobres que não
conseguiam pagar os impostos. Assim, quem “trabalhava”, naquela época, eram os
indivíduos depostos de recursos. Muito se evolui, mas ainda há um longo caminho
a ser percorrido, se observarmos que em média devemos trabalhar mais de cinco
meses no ano para o pagamento de impostos na Pátria Tupiniquim .
No dia 01
de maio é comemorado o Dia do Trabalho. Christophe Dejours, considerado o pai
da psicodinâmica do trabalho, adota uma visão onde o trabalho não é
enlouquecedor (mas como algo que pode arrastar o homem a dor psíquica
dependendo do lugar e maneira de labor em que está inserido), na tentativa de
fugir do adoecimento ocupacional, os trabalhadores se blindam dos efeitos
negativos e patológicos do ambiente de trabalho a sua saúde mental, através de
vários mecanismos de defesa.
Passamos
muito tempo de nossa existência nas atividades produtivas, é importante
olharmos este espaço como um local onde carinho, cuidado, dor e sofrimento se
misturam numa simbiose muito forte. Entender o homem passa pela percepção que o
trabalhador tem de si, e como o outro o enxerga, e o resultado que advém desta
equação.
Ás vezes o
trabalhador passa a ser mais reconhecido pela sua função (médico, carpinteiro,
professor, mecânica, policial etc.) do que por sua essência. Entender este
mecanismo é importante para uma melhor compreensão das singularidades humanas.
Não se deve reduzir o ser ao modo que ele “funciona” na sociedade, pois o dia
que ele não estiver com as suas operacionalidades a contento será substituído
ou rejeitado.
O descarte
pode ocorrer de maneira individual ou coletiva. Individual são as demissões de
trabalhadores que para o “bem da empresa” são dispensados, atualmente o IBGE
coloca numa cifra de 13%. Coletiva é o sumiço de profissões devido à
modernização e reestruturação produtiva, como por exemplo: cocheiro,
datilógrafo, leiteiro, pianista de cinema, amolador de facas etc.
O que
importa compreender é que o complicado tecido social da massa de trabalhadores
é reduzido e despersonalizado numa desafetivação do homem, que aparece a partir
da deterioração expandida do mundo do trabalho e a validade da acumulação por
espoliação da força de trabalho. O conjunto de coibições e apropriações de
habilidades, afinidades sociais, conhecimentos, costumes e crenças, além da
apropriação de realizações sociais e culturais as mais diversas, sedimentam a
predação e a cultura do temor que compõe um ambiente social e emocional
favorável para as aceitações ilegítimas do modelo produtivo explorador da
pós-modernidade ocidental.
É um
imperativo categórico o entendimento de que por trás de um profissional existe
um sujeito que tem as suas necessidades físicas e emocionais para serem
supridas e um homem ou mulher que têm sonhos a serem realizados nesta curta e
empolgante jornada na Terra chamada existência, ou seja, vida.
Texto: Aguinaldo Adelino Carvalho
Imagem ilustrativa: Google
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