Deixá-los voar? Nenhum pai quer que o filho voe
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Desde que eles nascem até ao dia em que deixam de responder
às mensagens que vivemos a conquistá--los. Não assumimos, mas passamos as
nossas vidas atrás deles, tipo namorados controladores, ciumentos e inseguros.
Dizemos que é racional, que é porque nos preocupamos, mas não é.
É só porque quem ama não larga e nós não conseguimos largar.
Nós queremos um amor correspondido, pago na mesma moeda e com o mesmo valor do
nosso, incomensurável, mas duvidamos que assim seja.
Duvidamos que eles nos amem da mesma maneira porque sabemos
que é impossível amar tanto. Por isso flirtamos, mimamos, zangamo-nos quando
não nos ligam, controlamos quando os sentimos distantes, desconfiamos quando
nos ignoram. Ficamos, numa palavra, lixados.
Nós pais vivemos assim: na ansia de que a traição se
concretize, com medo de deixarmos de ser indispensáveis. E o pior, o que nos
deixa mesmo malucos, é que temos a certeza de que ela chegará, que mais tarde
ou mais cedo seremos trocados.
Amar alguém que nos vai trair é fado, é triste. Fados,
poemas, livros foram escritos sobre o amor não correspondido, mas ninguém
dedicou a devida atenção quando esse amor não correspondido é o dos filhos.
Ninguém ainda cantou a triste história de o nosso amor
crescer e o deles não; de o nosso amor subir a pique desde a maternidade até ao
dia em que fechamos os olhos e o deles, bom, ter dias.
O deles confunde-se com dependência, segurança, sobrevivência
e depois com carinho, ternura, amizade, admiração. Já o nosso, é sempre paixão,
é sempre o primeiro.
O nosso não é livre, é tão arrebatador que não damos espaço à
liberdade - a liberdade põe à prova a nossa insegurança, provoca-a. As galinhas
são assim, e nós pais estamos iguais às galinhas.
Deixá-los voar? Nenhum pai quer que o filho voe. Voar para
onde, com quem, até que horas? Não é natural. Os filhos são como os pintos:
ninguém voa na família apesar das asas. As asas são uma partidinha da natureza.
Nós temos saudades, sentimos falta, sofremos.
E para nos consolar damos, só porque sim agarramos,
abraçamos, enchemos as caras de beijos, ficamos horas a olhar para eles como se
estivéssemos perante um pôr do Sol no Everest.
Também pedimos, pedimos beijos, abraços, declarações de amor
e até saudades - aconchega-nos que eles tenham saudades nossas. Já a filharada
faz-se de difícil, é snob. Faz-nos sofrer com birras, lágrimas gordas,
beicinhos cruelmente encantadores, silêncios enigmáticos ou sorrisos
manipuladores. Tudo coisas que nós gostamos. O ridículo é mesmo isso: gostamos
da injustiça deste amor.
Postado por Inês Teotónio Pereira no DN/Potugal – Foto: Google
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