“Professores e professoras, ao contrário do meu tempo de
criança e adolescência, são hoje totalmente desrespeitados, individualmente e
coletivamente”
Não diferente de muita gente, também li o texto desabafo da professora Marcia Friggi, agredida psicologicamente e fisicamente por um aluno de 15 anos.
Também li algumas das manifestações em redes sociais. Muitas de apoio e solidariedade à professora. Outras, de ódio. Ler estas manifestações me levou a algumas reflexões sobre o porquê de tanto ódio nas cabeças e corações das pessoas.
Boa parte dessas pessoas diz ser cristã. Usam cotidianamente o nome de Deus. Por qualquer razão, tascam o “fica com Deus”, “estou bem, graças a Deus”, “vai com Deus”. Será que o Deus deles prega o ódio ou odeia como essas pessoas? Concluo que o Deus deles não é o mesmo meu. E, se for, eles estão usando o seu santo nome em vão.
Outra questão que me surgiu ao ler o manifesto-desabafo da professora Marcia foi a recordação, isto já há quase 60 anos, das minhas professoras e professores do primário. Aqueles e aquelas que me ensinaram as primeiras letras e os primeiros passos no mundo dos que sabem ler e pensar.
Era outro tempo. Como dizem alguns, “tempos em que cada um sabia o seu lugar”.
Hoje também – e muitas vezes, infelizmente – cada um sabe o seu lugar. Digo infelizmente porque muitos são colocados onde jamais deveria estar. A muitos lhes foi dado poder, e estes usam-no para pregar o ódio, oprimir e negar o direito de organização, expressão e luta. Exemplos não faltam: Beto Richa, Geraldo Alckmin, muitos parlamentares, principalmente os da bancada BB (bala e Bíblia).
Muitos desses parlamentares pregam a chamada “escola sem partido”. Professoras e professores que ensinam as crianças e os jovens a pensar são perseguidos por autoridades obtusas. Fazem o discurso da escola sem partido porque querem uma população fascista ou idiotizada.
A chamada escola sem partido é a aquela que nega à criança o direito de aprender a pensar. Querem que se ensine a submissão, o “sim, senhor” aos poderosos – e, claro, que se elogie, e muito, o partido deles. E e que se ensine as crianças a odiar tudo o que é diferente do pensamento nazifascista, que é o que eles são.
Entre esses fascistas está o pastor deputado Marcos Feliciano. Numa fala empolada, em que diz que condena a agressão que a professora sofreu, procura justificar a agressão, e mais, tenta colocar a culpa na professora.
Para bom entendedor basta: sua declaração é, indiretamente, um estímulo à violência.
Corrobora com esses, que hoje detêm o poder, o pouco pensamento crítico da maioria dos jovens. Esta maioria somente pensa o momento em que vive, e para ela o desejo é ter alguma coisa, e não ser alguém. E para ter não precisa estudar.
Entendem que ter é o suficiente para ser. E para ter entendem que não precisam estudar. Basta ser esperto e passar outras pessoas para trás, ou ser violento e, se possível, participar de alguma gangue ou grupo. Para este tipo de pessoa, não há necessidade de ler. Basta ditar algumas mal ajambradas frases no WhatsApp ou escrever qualquer curta frase na mensagem. Entendem que isso é o suficiente para ter.
Se um educador ou educadora exigir um pouco mais – como, por exemplo, pensar, expressar e escrever corretamente – já é uma afronta, já é opressão. Às vezes isso é o suficiente para uma reação violenta.
Não reage à opressão econômica dos poderosos, mas sim ao que entendem como opressão por quem lhe exige algumas leituras.
Segundo pesquisa da Unesco divulgada em 2016, 50% do corpo docente de São Paulo e 51% do de Porto Alegre relataram ter sofrido algum tipo de agressão.
Nada justifica a violência. Ela sempre deve ser repudiada. Não se constrói amor e justiça usando a violência. No entanto, alguns que carregam o ódio no coração comentaram a agressão à professora estimulando mais violência e mais ódio.
Os professores e professoras, ao contrário do meu tempo de criança e adolescência, são hoje totalmente desrespeitados, individualmente e coletivamente.
Desrespeitados por alunos e alunas, pais e mães, e principalmente pelas autoridades. E o maior exemplo foi o do dia 29 de abril de 2015, quando Beto Richa mandou policiais agredirem educadores e educadoras com cassetetes, cães, bombas de efeito moral e balas de borracha.
A professora Marcia afirma estar dilacerada. A sociedade também deveria se sentir assim.
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