“Meu filho não é um bandido perigoso para sair algemado nos pés e nas mãos”
Foto: Folha1 |
Da museóloga
Magaly Cabral: (mãe de Sérgio Cabral), “O desabafo é uma mãe indignada com a
Justiça deste país. Meu filho não é um bandido perigoso para sair algemado nos
pés e nas mãos. Não estou dizendo que não cometeu erros, mas ontem (quinta) foi
um exagero. Que a Justiça vá resolver o que se passa com os bandidos que da
cadeia dão ordens de matar, invadir etc”.
Resposta:
O texto é da médica em resposta à mãe do Cabral
“Dona Magaly
Cabral,
também sou
mãe. E nas horas vagas sou médica. Trabalho em um hospital público. De uma
universidade. Estadual. No Rio de Janeiro. Como tal, assisti, impotente, a uma
enxurrada de solicitações de medicações essenciais para a vida de milhares de
pessoas ser negada por falta de compra. Vi, aterrorizada, centenas de leitos
serem fechados no HUPE por falta de repasse de verba. E tive, desesperada, que
negar admissões e internações justamente por falta de leitos.
O que durante
algum tempo parecia ocorrer pela crise financeira se mostrou uma farsa.
Descobri,
perplexa, que o dinheiro de merenda escolar e remédio era desviado para que o
governador do Estado e sua esposa advogada esbanjassem em iate, quadros,
viagens com fotos cafonas, joias e privada automatizada.
E, não por
acaso, este senhor era seu filho.
Desculpe a
minha falta de empatia, mas discordo categoricamente da sua afirmação. Seu
filho não “cometeu erros”. Ele fez algo mais grave. Ele cometeu crimes.
C-r-i-m-e-S. No plural. É fato que ele não deu ordens de matar, a partir da
cadeia. Por um motivo muito simples: ele matou muita gente com sua caneta. Que
lhe foi concedida para cuidar deste estado e não para se esbaldar em Paris com
guardanapos na cabeça e Loubotin nos pés.
"Da cadeia ele
não “mandou invadir”. No entanto, os lares dos cidadãos do estado foram
invadidos com as imagens das mordomias concedidas ao seu filho. Enquanto
milhares de presos semianalfabetos, negros e pobres apodrecem na cadeia
superlotada, onde adquirem, entre outras coisas, tuberculose e sarna. E de sua
nora desfrutando do conforto do seu apartamento no Leblon, ao passo que outras
milhares de mães presidiárias são afastadas dos seus filhos.
E não, não
compartilho da máxima que as mães podem tudo. Caso não tenha percebido, vou lhe
contar um segredo: seu filho lhe deu presentes caros nos últimos anos? Saiba
que eles custaram os rins, corações e fígados de pessoas doentes."
Humilhação é
mendigar remédios e salários que lhe são devidos por direito. É ser
achincalhado publicamente pelo seu patrão, como nós médicos fomos. É assistir
inúmeros pacientes morrerem por falta de antibiótico e perderem seus
transplantes por falta de imunossupressores.
Dona Magaly, me
desculpe se não sinto compaixão e se acho que as algemas são um castigo leve
demais.
Ao contrário da
senhora, que tem acesso à coluna, sou mais uma médica tentando enxugar gelo
todos os dias, além de tentar reconstruir, com muito trabalho, o hospital que
seu filho quebrou.
Infelizmente, o
meu lamento não desfaz a desgraça das inúmeras famílias que seu filho provocou.
Isso sim faz sentido, minha senhora.”
Da redação
com texto atribuído a Ancelmo Góis (Recebido
via WhatsApp)
Título: Amorim
Sangue Novo
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