11 outubro 2019

Editorial de jornal angolano cai como luva para o Brasil



A recuperação económica requer vontade e trabalho

"As crises económicas, quase sempre provocadas, como se sabe, pela gula dos que mais têm, mas acham sempre pouco, castiga invariavelmente os que menos possuem e os menos culpados por elas surgirem. Entre nós, a “fórmula” repetiu-se, no desespero dos inocentes e na opulência ofensiva dos culpados, alguns dos quais com a prerrogativa de terem podido “pôr-se ao fresco”, deixar para trás o esterco que amontoaram, continuarem a exibir, além fronteiras, a fartura do dinheiro rapinado ao erário, pelos mais variados métodos, com as consequências dramáticas que se conhecem, em todos os sectores da vida angolana, sem excepções, e darem-se à desvergonha de quererem apresentar-se, lá no lugar onde estão, seja ele qual for, como “incólumes arcanjos” perseguidos por “ignorantes demónios” que não souberam perceber que nem todos nascem com o mesmo destino e somente uma minoria de predestinados tem direitos. Também há os que não lograram ir ao encontro das fortunas guardadas nos mais diferentes “baús paradisíacos”, o que não os impede de, cá dentro, continuarem a andar por aí à solta, de nariz empinado, como se todos lhes devessem dinheiro e não fossem eles os devedores, a levar “vida de lordes”... nos gastos, raramente nas maneiras que, como o azeite na água, vêm sempre à superfície. Neste caso, não são fatiotas, pulseiras, relógios de ouro, rubis e diamantes que as escondem.

Estes exemplos da “gatunagem de colarinho branco”, além de terem arrastado a economia nacional para o estado que se conhece, de quase bancarrota, suscita o aparecimento seguidores, candidatos a marimbondos, cegos e surdos aos anúncios de processos judiciais, condenações em tribunal, expectativa de passarem a ver sol e lua aos quadrados.

Todos estes crimes de lesa-pátria - passados e presentes - têm por base o sentimento de impunidade, alicerçado no nepotismo, nas diferentes formas em que se apresenta, todas a abrir caminho à corrupção. O Chefe de Estado bem acentua, repetidamente, a importância e urgência de combater estes males, mas, às vezes, parece estar a falar para cegos e surdos da pior espécie, que são os que não querem ver, nem ouvir. Como se Angola não lhes dissesse nada. 

Não fosse assim, os comportamentos de alguns de nós mudavam e, certamente, havia, por exemplo, menos absentismo laboral, os locais de trabalho deixavam de ser pontos de passagem para uns quantos, pelo contrário, passavam a ser de entrega, de todos procurarem, a cada instante, justificar o que ganham e regressarem a casa com o sentimento de dever cumprido, de salário justificado. 

Também de ninguém aceitar funções para as quais não está minimamente preparado. Talvez, assim, não houvesse tanto pluriemprego e desemprego. Neste particular, os sindicatos, por motivos óbvios, têm uma palavra obrigatória a dizer.
Os tempos não são fáceis para a maioria dos angolanos, que devem consciencializar-se que podem chegar outros ainda mais difíceis, como a conjuntura internacional prediz . E nós, por causas conhecidas, estaremos sempre em pior situação de os enfrentar do que países mais antigos e com menos feridas por sarar. Pelo que estes dias, como também alertou o Presidente da República, embora por outras palavras, é de menos paleio e mais trabalho. E, com o devido respeito, acrescento: de menos anúncios e mais acções em prol do bem geral. Talvez assim, deixe de haver razão para a existência do provérbio antigo que alerta: “vale mais cair em graça do que ser engraçado”. Lá vem, uma vez mais, o nepotismo à tona."
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Director: Victor Silva - Director Adjunto: Caetano Júnior
Título: Amorim Sangue Novo


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