Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (Fazenda do Pombal, batizado em 12 de novembro de 1746 — Rio de Janeiro, 21 de abril de 1792),
foi um dentista, tropeiro, minerador, comerciante, militar e ativista político que
atuou no Brasil, mais
especificamente nas capitanias de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Personagem símbolo da conspiração denominada Inconfidência Mineira,
é patrono cívico do Brasil, além de patrono das Polícias
Militares e Polícias Civis dos
Estados.
Desde o advento
da República no Brasil (1889), Tiradentes é considerado herói
nacional: o mártir foi criado pelos
republicanos com a intenção de ressignificar a identidade brasileira.
O dia de sua execução, 21 de abril, é feriado
nacional. A cidade mineira de Tiradentes,
antiga Vila de São José do Rio das
Mortes, foi renomeada em sua homenagem. Seu nome está inscrito
no Livro dos
Heróis da Pátria desde 21 de abril de 1992
Tiradentes nasceu na Fazenda do
Pombal, próximo ao arraial de Santa Rita do Rio Abaixo, à época território
disputado entre as vilas de São João del-Rei e São José del-Rei,
na Capitania de Minas Gerais.
Joaquim José da Silva Xavier era o quarto de sete filhos
do português Domingos da Silva Santos, proprietário rural, e da brasileira nascida em colônia portuguesa, Antônia da Encarnação Xavier.
Tiradentes era oriundo de uma família que não era pobre,
como se constatou pela inventário da sua mãe, que foi aberto em 1756. Havia 35
escravos na grande fazenda do Pombal, onde trabalhavam também em mineração.
Um alpendre dava acesso externamente a um oratório e
havia senzalas e cozinhas coletivas. Foi ainda
relacionada no inventário uma grande e valiosa quantidade de equipamentos para
mineração.
Em
1755, após a morte de sua mãe, segue junto a seu pai e irmãos para a sede da
Vila de São José; dois anos depois, já com onze anos, morre seu pai. Com a
morte prematura dos pais, logo sua família perde as propriedades por dívidas.
Não fez estudos regulares e ficou sob a tutela de seu tio e padrinho Sebastião
Ferreira Leitão, que era cirurgião dentista.[4] Trabalhou como
mascate e minerador, tornou-se sócio de uma botica de assistência à pobreza na
ponte do Rosário, em Vila Rica, e se
dedicou também às práticas farmacêuticas e ao exercício da profissão de
dentista, o que lhe valeu o apelido (alcunha) de Tiradentes.[4] Segundo frei Raimundo de Penaforte,
Tiradentes "ornava a boca de novos dentes, feitos por ele mesmo, que
pareciam naturais".[7] Trabalhava
ocasionalmente também como médico, em vista dos conhecimentos sobre plantas
medicinais adquiridos com seu primo, frei José
Mariano da Conceição Veloso, consagrado botânico à época
Participação na Inconfidência Mineira
Além das influências externas,
fatores mundiais e religiosos contribuíram também para a articulação da
conspiração na Capitania de Minas Gerais.
Com a constante queda na receita institucional, devido ao declínio da atividade
mineradora, a Coroa resolveu, em 1789, a aplicar o mecanismo da Derrama, para garantir que as receitas oriundas
do Quinto, imposto
português que reservava um quinto (1/5) de todo minério extraído no Reino de
Portugal e seus domínios. A partir da
nomeação de Luís da Cunha Meneses como
governador da capitania, em 1783, ocorreu a marginalização de parte da elite
local em detrimento de seu grupo de amigos. O sentimento de revolta atingiu o
máximo com a decretação da derrama, uma medida administrativa que permitia a
cobrança forçada de impostos, mesmo que preciso fosse prender o cobrado, a ser
executada pelo novo governador da Capitania, Luís
Antônio Furtado de Mendonça, 6.º Visconde de Barbacena (futuro Conde de Barbacena),
o que afetou especialmente as elites mineiras. Isso se fez
necessário para se saldar a dívida mineira acumulada, desde 1762, do quinto,
que à altura somava 768 arrobas de ouro em impostos atrasados.
Ameaçada de uma derrama violenta, os
inconfidentes, entre eles, o tenente-coronel Francisco
de Paula Freire de Andrade, os poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto e Joaquim José da Silva
Xavier, o Tiradentes, marcaram um levante para a ocasião da derrama de 1789. Porém, antes que a
conspiração se transformasse em revolução, em 15 de março de 1789 foi delatada
aos portugueses por Joaquim Silvério dos Reis, coronel, Basílio
de Brito Malheiro do Lago, tenente-coronel, e Inácio Correia de Pamplona,
luso-açoriano, em troca do perdão de suas dívidas com a
Real Fazenda.[11][12] Anos depois, por
ordem do novo oficial de milícia Ernesto
Gonçalves, planejou o assassinato de Joaquim Silvério dos Reis.
Entrementes, em 14 de março, o Visconde de Barbacena já havia suspendido a
derrama, o que esvaziara por completo o movimento.[11][12] Ao tomar conhecimento
da conspiração, Barbacena enviou Silvério dos Reis ao Rio para apresentar-se ao
vice-rei, que imediatamente abriu uma investigação (devassa), no dia 7 de maio.
Avisado, o alferes Tiradentes, que estava em viagem
licenciada ao Rio de Janeiro escondeu-se no sótão da casa de Domingo
Fernandes da Cruz, amigo da tia de Alvarenga Peixoto, dona Inácia.
Desejando saber "em que termos vão as coisas", pediu ao padre Inácio de
Lima, sobrinho de dona Inácia, para que procurasse por Silvério dos
Reis: "amigo". No dia 9 de maio, Silvério dos Reis contou ao vice-rei
que sabia quem conhecia o paradeiro de Tiradentes. No dia seguinte, o Padre
Inácio foi apresentado ao Palácio e ameaçado para entregar a localidade do
alferes.
Tiradentes
teve a casa cercada ainda no dia 10 por soldados originais da cidade de Estremoz. Escondeu-se atrás das cortinas da cama,
segurando um bacamarte carregado,
cedido por Matias
Sanches Brandão, e mantendo duas pistolas por perto, cedidas
por Francisco Xavier Machado. Quando os soldados
invadiram o quarto, Tiradentes entregou-se. Talvez ainda houvesse chance para a
revolução, mesmo sem ele.
Julgamento e sentença
Presos, todos os inconfidentes aguardaram durante três anos pela
finalização do processo. Alguns foram condenados à morte e outros ao degredo; algumas horas depois, por carta de clemência
de D. Maria I, todas as sentenças foram alteradas para
degredo, à exceção apenas para Tiradentes, que continuou condenado à pena
capital, porém não por morte cruel como previam as Ordenações do Reino: Tiradentes
foi enforcado.
Os réus foram sentenciados pelo crime de
"lesa-majestade",
definida, pelas ordenações afonsinas e
as Ordenações Filipinas,
como traição contra o rei.
Tiradentes foi o único conspirador punido com a morte por ser o inconfidente de
posição social mais baixa, haja vista que todos os outros ou eram mais ricos,
ou detinham patente militar superior
Execução E assim, numa manhã de sábado, 21 de abril de 1792, Tiradentes percorreu em procissão as ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro, no trajeto entre a cadeia pública e onde fora armado o patíbulo. O governo geral tratou de transformar aquela numa demonstração de força da coroa portuguesa, fazendo verdadeira encenação. A leitura da sentença estendeu-se por dezoito horas, após a qual houve discursos de aclamação à rainha, e o cortejo munido de verdadeira fanfarra e composta por toda a tropa local. Bóris Fausto aponta essa como uma das possíveis causas para a preservação da memória de Tiradentes, argumentando que todo esse espetáculo acabou por despertar a ira da população que presenciou o evento, quando a intenção era, ao contrário, intimidar a população para que não houvesse novas revoltas.
Executado e esquartejado, com seu sangue se lavrou a
certidão de que estava cumprida a sentença, tendo sido declarados infames a sua
memória e os seus descendentes. Sua cabeça foi erguida em um poste em Vila Rica, tendo sido rapidamente cooptada e nunca
mais localizada; os demais restos mortais foram distribuídos ao longo do
Caminho Novo: Santana de Cebolas (atual Inconfidência, distrito de Paraíba do Sul), Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz (antiga
Carijós, atual Conselheiro Lafaiete), lugares onde fizera seus discursos
revolucionários. Arrasaram a casa em que morava, jogando-se sal ao terreno para
que nada lá germinasse.
JUSTIÇA que a Rainha Nossa Senhora manda fazer a este
infame Réu Joaquim José da Silva Xavier pelo horroroso crime de rebelião e alta
traição de que se constituiu chefe, e cabeça na Capitania de Minas Gerais, com
a mais escandalosa temeridade contra a Real Soberana e Suprema Autoridade da
mesma Senhora, que Deus guarde.
MANDA que com baraço e pregão seja
levado pelas ruas públicas desta Cidade ao lugar da forca e nela morra morte
natural para sempre e que separada a cabeça do corpo seja levada a Vila Rica,
donde será conservada em poste alto junto ao lugar da sua habitação, até que o
tempo a consuma; que seu corpo seja dividido em quartos e pregados em iguais
postes pela estrada de Minas nos lugares mais públicos, principalmente no da
Varginha e Sebollas; que a casa da sua habitação seja arrasada, e salgada e no
meio de suas ruínas levantado um padrão em que se conserve para a posteridade a
memória de tão abominável Réu, e delito e que ficando infame para seus filhos,
e netos lhe sejam confiscados seus bens para a Coroa e Câmara Real. Rio de
Janeiro, 21 de abril de 1792, Eu, o desembargador Francisco Luiz Álvares da
Rocha, Escrivão da Comissão que o escrevi. Sebão. Xer. de Vaslos. Cout.
— Sentença proferida contra o réu
Joaquim José da Silva Xavier
Representações no audiovisual
Cinema
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1948 – Inconfidência Mineira, de Cármen Santos (ator: Rodolfo Mayer)
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1966 – Cristo de Lama,
de Wilson Silva (ator: Waldir Maia)
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1972 – Os Inconfidentes,
de Joaquim Pedro de Andrade (ator: José Wilker)
·
1976 – Tiradentes, o Mártir da Independência,
de Geraldo Vietri (ator: Adriano Reys)
·
1999 – Tiradentes, de Oswaldo Caldeira (ator: Humberto Martins)
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2017 – Joaquim,
de Marcelo Gomes (ator: Julio Machado)
Televisão
·
1969 – Dez Vidas,
telenovela de Ivani Ribeiro, TV Excelsior (ator: Carlos Zara)
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1976 – Saramandaia,
telenovela de Dias Gomes, Rede Globo (ator: Francisco Cuoco —
aparição especial).
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2016 – Liberdade, Liberdade,
telenovela de Mário Teixeira e Márcia Prates, Rede Globo (ator: Thiago Lacerda)
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