11 maio 2020

Socorro: O juízo sumiu



Algo de muito estranho acontece no Brasil. Milhões de brasileiros ficaram estarrecidos com o festival de insanidades e de ilicitudes cometidos nos últimos anos. Houve irresignação e manifestações. As eleições de 2018 surpreenderam aqueles que não percebiam que o povo estava possesso.

O recado das urnas foi contundente. Não se suporta mais a “velha política”, o “toma lá, dá cá”, o “é dando que se recebe”. É urgente a adoção de práticas já existentes em outros países e, portanto, bem possíveis de implementação até aqui no Brasil.
Política partidária não é profissão. É ônus. É o serviço que o cidadão lúcido, consciente e devotado oferece para o conjunto de nacionais que o elege. Assim deveria ser.

Acreditou-se que os tempos seriam outros.

Entretanto, o que se vê em quase um ano e meio de governo?
O Senado, a “Câmara Alta”, integrada por pessoas experientes, sem a impulsividade da Câmara dos Deputados, se mantém nas práticas habituais. Não aprova a Reforma da Previdência se não houver contrapartida.

O famigerado Fundo Partidário, que deveria ser extinto, foi objeto de acréscimo. A miséria aumenta e o menoscabo com o minguado dinheiro do povo também. Não se fala em reduzir partidos e ninguém tem coragem de dizer que uma República provida de 40 diferentes fórmulas de gerir a coisa pública não pode dar certo.
No âmbito dos demais poderes a coisa não é muito melhor. O Judiciário, que deveria ser o Poder Moderador, só pensa em si mesmo. Quer mais tribunais federais, em lugar de transformar-se num só Poder Nacional, sem a necessidade de duas “Justiças Comuns”, que só servem para criar conflitos de competência. Tribunais locais querem mais cargos, mais prédios, mais carros modernos, sem a menor noção de que no resto do mundo o juiz é um servidor como qualquer outro. Não precisa de pompas e circunstâncias. Basta a sua autoridade moral, além da competência técnica.

O Ministério Público pensa em crescer ainda mais. Mais cargos, mais edifícios, “mais tudo do mesmo”, quando o restante do mundo assumiu o compromisso de reduzir burocracias, de se utilizar da inteligência artificial e das demais tecnologias da Quarta Revolução Industrial para um urgente enxugamento, nunca proliferação de estruturas arcaicas e dispendiosas.

Aparentemente, o povo está anestesiado. Não tem vontade de se manifestar outra vez. Não tomou conhecimento de que o necessário não se fez. Tudo continua a exigir transformação: educação, saúde, segurança pública, saneamento básico, infraestrutura.

Prossegue a visão reducionista de que se combate violência com mais violência e que o remédio está na indústria de construção de presídios. A sujeira aumenta, a indigência também, o meio ambiente é ultrajado e quem tem a coragem de defende-lo é “comunista” ou “inimigo do progresso”.

Parece que o juízo tirou férias do Brasil. O pior é que tudo sugere que ele não tem pressa de voltar.

Nota da redação:
No que se refere ao sua consideração sobre o Judiciário, o então desembargador, José Renato Nalini se contradiz, posto que foi um defensor ferrenho do Auxílio Moradia, inclusive usando frases impopulares, conforme podem ser vistas no vídeo abaixo

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