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22 outubro 2019

Chá da tarde com Amora - Comentário 22/10/19

“De onde eu venho, tenho claro como é a desigualdade no Brasil. Falta educação de qualidade pra muita gente.”

“O meu sonho é que a Educação vire prioridade no país.”


Da escola pública na periferia de São Paulo a Harvard, conheça quem é Tabata Amaral, a jovem que quer transformar a Educação Pública no Brasil.
Nascida na periferia de São Paulo, Tabata recebeu bolsa para estudar Ciências Políticas em uma das maiores universidades do mundo, Harvard. (Foto: Acervo Pessoal)

Estudante de escola pública, Tabata Amaral, recebeu uma bolsa integral para fazer graduação na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Formou-se em Ciência Política em 2016 e, de volta ao Brasil, foi eleita deputada federal pelo PDT de São Paulo em 2018. Uma de suas principais bandeiras é a defesa por uma Educação de qualidade para redução das desigualdades no Brasil.

Futura & Educação: Como foi a sua trajetória até chegar a Harvard? Alguma vez você já imaginou que poderia ir tão longe?
Tabata Amaral: Eu tive a chance de participar da 1ª OPMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas) e ganhar uma bolsa de estudos em São Paulo numa escola particular. Até então, eu estudava em uma escola pública na Vila Missionária [um bairro na periferia de São Paulo formado por migrantes de outros estados].
Assim, pude ter acesso a uma melhor qualidade no ensino e a matérias que eu não estudava. Vi que essa outra realidade era muito diferente. Nesta escola conheci pessoas que falavam outro idioma, viajavam para fora, já faziam intercâmbio. E eu, que demorava 4h para ir e voltar da escola, nunca tinha possibilidade de pensar em qual era o meu sonho. Conheci um mundo muito mais amplo que o meu.
Foi então que eu comecei a sonhar em fazer uma faculdade fora. Inicialmente, eu queria fazer Astrofísica. Os professores conseguiam um quartinho para eu ficar na escola. De onde eu venho, eu tenho claro como é a desigualdade no Brasil. Falta educação de qualidade para muita gente. Por alguns momentos eu conseguia vislumbrar essa realidade.

“De onde eu venho, tenho claro como é a desigualdade no Brasil. Falta educação de qualidade pra muita gente.”

Eu perdi meu pai 4 dias depois que fui aprovada em Harvard. O que fez que meu sonho em ser Astrofísica também mudasse. Daí, decidi que ia fazer Ciências Políticas. Fiz faculdade entre 2012 e 2016.

Futura & Educação: Qual a origem da sua família? Conta um pouquinho mais sobre a sua história.
Tabata: Minha mãe veio do interior da Bahia. Ela começou a estudar com 10 anos, mas quando engravidou de mim ela saiu da escola e foi trabalhar. Meu pai conheceu minha mãe quando ela estava grávida. Ele é de São Gonçalo e foi pra São Paulo com 15 anos, mas tinha doenças psicológicas e vícios. Ele nasceu na Paraíba, mas viveu em São Gonçalo. Ele junto com minha mãe foram morar numa ocupação na Vila Missionária, onde ela mora até hoje.

Futura & Educação: Como foi o período em que esteve em Harvard? O que mudou na Tabata?
Tabata: Uma coisa que mudou foi a minha visão do mundo. Eu tive muitas oportunidades muito jovem, mas eu sempre morei na Missionária. Hoje, eu tenho uma visão muito mais complexa da desigualdade. Lá [nos EUA}, eu conheci tanta gente: mulheres, homens, jovens, negros… pude ver que a solução não é simples, mas precisamos de políticas públicas para transformar a Educação no Brasil.
Futura & Educação: Por que decidiu voltar ao Brasil?
Tabata: Eu fui para Harvard quase sem falar inglês. Minha mãe ficou desempregada e não tinha condições de pagar um cursinho de idiomas. Eu só fui porque os meus professores do colégio e minha mãe me convenceram a ir. Na época, eu me sentia muito culpada por não poder ajudar meu pai. Só fui mesmo porque me convenceram que assim eu poderia mudar as coisas.
No segundo ano eu mudei de curso porque decidi estudar mais sobre Política e Educação. Queria – e ainda quero – mudar a realidade do Brasil. Nas férias, eu voltava para o Brasil. Eu sei que lá ganharia muito mais, mas acho que fazia mais sentido eu voltar. Conheci de perto a Secretaria de Educação no Ceará (Sobral) e depois a Secretaria pública de Salvador (BA). Eu pude ver o que é possível transformar a nossa Educação.

“Eu sei que lá ganharia muito mais, mas acho que fazia mais sentido eu voltar pro Brasil.”

Futura & Educação: Como mudar a educação pública no Brasil?
Tabata: É um conjunto de fatores. Atração, valorização de professores, ensino integral, rever FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) e gestão de politicas públicas.
¾ dos munícios escolhem seus diretores por indicações políticas. Em muitos estados, não há vontade política para a Educação dar certo. Ela só vai dar certo com quando for colocada como prioridade de política pública.

Futura & Educação: O que você espera dos próximos anos na educação brasileira?
Tabata: O meu sonho é que a Educação vire prioridade no país para que a gente tenha a melhor educação pública do mundo. Temos uma população que não vai à escola, é analfabeta funcional. Tem que ter uma renovação política.

Futura & Educação: O Movimento Acredito tem essa proposta de renovação política?
Tabata: Sim, é um movimento de renovação política e temos agendas de combate a desigualdade e privilégios. Mais do que uma disputa entre esquerda x direita, defendemos bandeiras voltadas para a Educação, para que as pessoas voltem a acreditar na política, voltem a acreditar no Brasil e convocamos as pessoas para pensarem e mudarem suas realidades.
Já revitalizamos praças, já fizemos ação para que os jovens tirem título de eleitor, apoiamos jovens, fizemos abaixo assinado. Atuamos em 14 estados: Acre, Pernambuco, Ceará, Bahia, Minas Gerais, Distrito Federal, Goiás, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro.
Tabata faz parte de um movimento nacional suprapartidário formado por jovens insatisfeitos com a política desenvolvida atualmente no país. 

Futura & Educação: Quem é a sua principal inspiração para promover essa transformação política na educação?
Tabata: A Malala Yousafzai é uma pessoa que eu admiro muito. E vi o quanto ela é gente como a gente. Se ela sendo gente como a gente conseguiu fazer a revolução, por que também não conseguimos? Isso me inspirou muito. Em julho de 2018, ela deu uma palestra no Santander e eu fui uma das jovens selecionadas para participar da conversa sobre jovens e políticas. Ela falou que os jovens estão muito desanimados com a solução política, mas ela estimulou. Falou para não desistirmos.