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04 maio 2021

O Poema nosso de cada dia - Soneto para Saninha - Euclides da Cunha

 

Euclides em desenho a nanquim bico-de-pena,
por Cândido Portinari. 1944. 

“Ontem, quando, soberba, escarnecias

Dessa minha paixão, louca, suprema,
E no teu lábio, essa rosa da algema,
A minha vida, gélida prendias…Eu meditava em loucas utopias,
Tentava resolver grave problema…
_ Como engastar tua alma num poema?
E eu não chorava quando tu te rias…

Hoje, que vives desse amor ansioso
E és minha, só minha, extraordinária sorte,
Hoje eu sou triste, sendo tão ditoso!

E tremo e choro, pressentindo, forte
Vibrar, dentro em meu peito, fervoroso,
Esse excesso de vida, que é a morte…”

A poesia sempre acompanhou Euclides da Cunha em toda a sua trajetória de vida conturbada. Acima, o soneto que escreveu em 1890, para Saninha, (Anna de Assis), sua mulher:

Postado do Artenafrede

05 abril 2021

O poema nosso de cada dia - Eu vou te contar, declamado por Maria Bethânia

Maria Bethânia declama Eu vou te contar, de Fauzi Arap com o fundo musical Um jeito estúpido de te amar

Imagem ilustrativa



"Eu vou te contar que você não me conhece,
E eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não
Me ouve.
A sedução me escraviza a você
Ao fim de tudo você permanece comigo mas preso ao que
Eu criei
E não a mim.
E quanto mais falo sobre a verdade inteira um abismo
Maior nos separa.
Você não tem um nome, eu tenho.
Você é um rosto na multidão e eu sou o centro das
Atenções.

Mas a mentira da aparencia do que eu sou,
E a mentira da aparencia do que você é.
Porque eu,
Eu não sou o meu nome,
E você não é ninguém.

O jogo perigoso que eu pratico aqui,
Ele busca chegar ao limite possível de aproximação,
Através da aceitação da distância e do reconhecimento
Dela."

28 março 2021

O poema nosso de cada dia - Se eu fosse eu - Clarice Lispector (recitado por Aracy Balabanian)


"Quando eu não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar, diria melhor SENTIR. E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser movida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida. Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei. Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo que é meu e confiaria o futuro ao futuro. "Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teriamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos emfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando, porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais"

10 setembro 2020

O poema nosso de cada dia: Eu fiz tudo o que pude

Eu fiz tudo o que pude

Por você, fui além

Fiz mais do que poderia imaginar.

Passei dos limites,

Eu fiz tudo o que pude

Para este amor conservar.

Infelizmente tudo acabou

Não pude evitar,

que nosso laço se quebrasse.

Relacionamentos não sobrevivem

a ciúmes possessivos

Eu fiz tudo o que pude,

mas não foi o bastante,

O amor dessa vez não venceu.

Eu fiz tudo o que pude.

Eu fiz tudo o que pude.

(Amorim Sangue Novo)

05 setembro 2020

O poema nosso de cada dia: - Semana Dirceu Casagrande - Somos o que somos

Foram sete os poemas os nosso amigo dracenense Dirceu Casagrande, publicados em nosso site desde o dia 30/08/20 até este sábado, 05/09/20

Somos o que somos

Se fosse como eu queria
O mundo era só alegria
Só o amor prevalecia
Alimento toda mesa teria
Tudo perfeito seria
Como o pão nosso de cada dia.

Como não é   do meu jeito
Muita gente com defeitos
Pois nem tudo é perfeito
Muita gente dormindo sem leito
Por isso não vivo satisfeito

As vezes eu sou o que quero
Sou quem sou e só espero
Que o sonho que tanto venero
Possa um dia ser sincero
Peço sempre ao pai eterno
E se faltar eu inteiro

Vou completar me doando
Não sou oque quero sonhando
Mas sou quem sou me realizando
Oque não posso é ficar esperando
Ser oque pretendo me humilhando
Mas ser mais me completando. 

Não espere aí sentado
Diga oque sabe não fique calado
Não se humilhe pra não ser humilhado 
Cante a vitória no alegre solado
Com a certeza que Deus está do seu lado...

(Dirceu Casagrande)

04 setembro 2020

O poema nosso de cada dia: Semana Dirceu Casagrande - 6 Flor mulher

Imagem ilustrativa
Flor mulher

Toda mulher é uma flor,
Perfumada e sempre bela
E o jardineiro com amor
Precisa cuidar bem dela,
Irrigar ,zelar, proteger,
Enfeitar seu jardim com ela,
Viver sonhar e adormecer,
Sentindo o perfume dela.

Toda flor é feminina
Mesmo o cravo e o jasmim
Pois suas belezas infindas
Da vida a qualquer jardim.
Jardim do lar ou da praça,
Das cidades dos campos e enfim
Dando alegria a quem passa
Pois foi Deus quem as fez assim.

Toda mulher nasce planta
Como flor brota do chão
Quando criança uma santa
Na juventude um botão
Mais adulta dessabrocha,
Floresce seu coração
Se torna , jardim florido
Cujo os filhos , flores são.

(Dirceu Casagrande)

03 setembro 2020

O poema nosso de cada dia: Semana Dirceu Casagrande - 5 No colo da noite

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No colo da noite

O colo da noite é o lugar onde durmo
Envolto nos braços da cruz que carrego
Meu sonho é um barco que segue sem rumo
Nas águas profundas do mar que navego.
Descrente do amor,fui disiludido,
Ao sofrer tanta dor eu deixei o meu lar
Qualquer viaduto hoje é meu endereço
Nessa solidão estou pagando o preço 
De quem nessa vida nasceu pra te amar,.

Modelo em mulher
Perfeita morena 
Tão bela a pequena
Assim Deus o fez,.
Se todo homem sonha
Sonhei ter só minha 
Te fazer rainha.
Prá ser o seu rei,

(Dirceu Casagrande)

02 setembro 2020

O poema nosso de cada dia: Semana Dirceu Casagrande – 4 Só queria ser feliz



Imagem ilustrativa
Só queria ser feliz

Busquei na fonte dos prazeres
Algo para matar meus desejos
Imaginei conquistar para sempre
A felicidade que até hoje almejo

Mas a fonte que eu buscava secou
Faltou algo prá realizar meu querer
Mas serviu pra que eu aprendesse
Que o mais importante é viver,

Viver intensamente os momentos
Como o último a ser vivido
Agarrar com unhas e dentes
A vida o amor o amigo

Caminhar sem medo de cair
Correr como atleta para vencer erguer a cabeça e enxergar
O horizonte feliz do novo amanhecer

O sol da manhã com raios de vida
O céu azul como as águas do mar
Na noite de lua e céu estrelado
E a brisa soprando trazendo paz

Paz que tanto preciso
Amor que eu sempre quis
Fonte de prazer e desejos,,
O que quero é ser feliz,,,.

(Dirceu Casagrande)

01 setembro 2020

O poema nosso de cada dia: Semana Dirceu Casagrande – 3 Onde mora a felicidade



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Onde mora a felicidade

Trabalhei o dia todo
Entre os doutores da lei
De paletó e gravata
Julgando oque o outro fez ,

Sem almoço,sem descanso
Corrido e muita tensão
Se não fosse por prazer
Desistiria da profissão

Ao ir pra casa a tarde
Quando no semáforo parei
Nervoso e com muita pressa
Com um mendigo me deparei,.

Sorrindo ele me olhou
Sem camisa , pés no chão
Aprendi que perante a lei
É um comum cidadão

Perguntei vc é feliz
Afirmou na simplicidade
É  no prazer de viver doutor
Que mora a felicidade

Sou feliz , você percebe
No sorriso do meu rosto
Vivo fazendo oque gosto
Não ao que me é imposto.

Fui pra casa e não dormi
Perguntei com sinceridade
Ao meu Deus quero saber,
Onde mora a felicidade,

Talvez  você possa me ajudar
E responder para mim
Onde encontro a felicidade
No começo,meio,ou fim,.
 (Dirceu Casagrande)

31 agosto 2020

O poema nosso de cada dia: Semana Dirceu Casagrande – 2 Amigo

Imagem ilustrativa

Amigo

Amigo é como os dedos das mãos
Poucos,diferentes,mais perfeitos
Que unidos completam a mão que dá
A mão que pega a mão que indica
A mão que aperta
A mão que comprimenta
A mão que socorre
A mão na hora certa

Amigo se conquista
Amigo não tem a venda
Amigo é como chuva
Chuva que irriga a planta
Amigo é o fruto que alimenta
Que alimenta o amor
Que alimenta a paz
A paz que encanta
Amigo é amigo
Sem explicação...

(Dirceu Casagrande)

22 agosto 2020

O poema nosso de cada dia: Os meus secretos amigos, por Odilon Ramos

"O texto é de Paulo Santana. A trilha musical, do saudoso artista das ruas de Porto Alegre, violinista Jurgen Wentz"



Sugestão enviada para nossa redação por Francisco Torturello, popular Xikão

21 agosto 2020

O poema nosso de cada dia - Maria Bethânia declama Cântico negro de José Régio


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

(José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre.)

https://youtu.be/VHfvWu8BX8k

20 agosto 2020

O poema nosso de cada dia - O amor imortal

Na imagem: Obra de arte de Henri De Toulouse-Lautrec intitulada O Beijo

Dias de glória
Noites de história 
Quero viver um amor imortal 
Um sentimento real
Que dure o quanto durar
Que consiga me conquistar
Quero dele a amenidade 
Lucidez e claridade 
Com pitadas de sabor 
Encantamento e clamor 
Suspiros em noites excêntricas 
Posições obscenas e concêntricas
Delicadeza de atitudes 
Segredos em amiúdes 
Uma grande eloquência
A subornar com frequência
Um emaranhado de emoções 
Soberbas ponderações
(Amorim Sangue Novo)

16 agosto 2020

O poema nosso de cada dia: Casa arrumada - Carlos Drummond de Andrade

Imagem ilustrativa
"Casa arrumada é assim: Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições
fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
- Sofá sem mancha?
- Tapete sem fio puxado?
- Mesa sem marca de copo?
- Tá na cara que é casa sem festa.
- E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos, netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar."

Observação:
Texto enviado por Dininha, envie também sua poesia ou poema preferido para WhatsApp 18 981226456 (sujeito a nossa apreciação e análise antes de possível publicação


Veja também:

Texto de Casa Arrumada postado por Graziella Damo Fontoura no O Alto Uruguai clicando aqui >>>

02 agosto 2020

O poema nosso de cada dia - 02/08/20 - O farol das noites escuras

Pôr do Sol no Farol da Barra-Salvador/BA - (Bahia Já Turismo)

O farol das noites escuras

"Você é o farol de minhas noites escuras e turbulentas.

Ao amanhecer você vem em forma de raios de sol;
Iluminar e aquecer minha m'alma;
Trazendo uma brisa suave;
Tocando meu rosto;
Acariciando minha pele;
Afagando meus cabelos,
E sussurrando em meus ouvidos:
"Estou aqui Querida!""

(Dininha - Colaboradora,  criadora e editora do Fundo Baú do Amora)

23 julho 2020

O poema nosso de cada dia - 23/07/20 = Vida em branco - Zélia Duncan

Videofoto: Amorim Sangue Novo, da música Não vá ainda


Vida em branco
"Você não precisa de artistas?
Então me devolve os momentos bons
Os versos roubados de nós
As cores do seu caminho
Arranca o rádio do seu carro
Destrói a caixa de som
Joga fora os instrumentos
E todos aqueles quadros
Deixe as paredes em branco
Assim como é sua cabeça
Seu céu de cimento
Silêncio cheio de ódio
Armas para dormir
Nenhuma canção para ninar
E suas crianças em guarda
Esperando a hora incerta
Pra mandar ou receber rajadas

Você não precisa de artistas?
Então fecha os olhos, mora no breu
Esquece o que a arte te deu
Finge que ela não te deu nada
Nenhum som, nenhuma cor,
Nenhuma flor na sua blusa
Nem Van Goh, nem Tom Jobim
Nenhum Gonzaga, nem Diadorim
Você vai rimar com números
Você vai dormir com raiva
E acordar sem sonhos, sem nada
E esse vazio no seu peito
Não tem refrão pra dar jeito
Não tem balé pra bailar.

Você não precisa de artistas?
Então nos perca de vista
Nos deixe de fora
Desse seu mundo perverso
Sem verso, sem graça, sem alma".

(Zélia Duncan)

20 julho 2020

O poema nosso de cada dia - 20/07/20 - Corrupção - Dirceu Casagrande

Imagem ilustrativa para servir de alerta

Corrupção

Eu sou como a nuvem do temporal,
Que deixa rastros por onde passa,
Na favela, no morro tirando vidas
E vou embora sem deixar sinal de fumaça.

Eu sou a praga criada
Na fila da fome e da dor
Sou a ganância do mais muito mais
Sou a falta da partilha e do amor.

Eu ajunto sem maquinários
Colho onde nunca plantei
Ganho dormindo, sonhando
Mas hoje eu acordei.

De que vale juntar tanto pra mim
Se não guardo nada pra depois
Se o vírus chamado corona
Pega em mim, você, nós dois.

Se o hospital que interna é o mesmo
Que trata do pobre e do rico
Se a morte leva o paciente
Leva todos nem eu mesmo fico.

Ainda bem que foi só pesadelo
Acordei quando o vírus chegou
Quero voltar pra escola de novo
Que a saúde a corrupção já levou.

Só restas alguns pacientes
Que agoniza na ânsia da morte
Que eu com a sede do mais
Decretei sua dor, sua sorte.

Eu sou a corrupção
Meu nome não é tão interessante
Meu poder esse sim importa
Mando, desmando e sigo adiante.(Dirceu Casagrande)

Veja também:




13 julho 2020

O poema nosso de cada dia - A escravidão - Tobias Barreto



A ESCRAVIDÃO
Se Deus é quem deixa o mundo

Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.

Se não lhe importa o escravo

Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus,
Em seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!

(Tobias Barreto)

"Tobias Barreto de Meneses nasceu na vila sergipana de Campos, a 7 de junho de 1839, sendo filho de Pedro Barreto de Meneses, escrivão de órfãos e ausentas da localidade. É o patrono da Cadeira nº 38 da Academia Brasileira de Letras. Aprendeu as primeiras letras com o professor Manuel Joaquim de Oliveira Campos. Estudou latim com o padre Domingos Quirino, dedicando-se com tal aproveitamento que, em breve, iria ensinar a matéria em Itabaiana. Em 1861 seguiu para a Bahia com a intenção de freqüentar um seminário mas, sem vocação firme, desistiu de imediato. Sem ter prestado exames preparatórios voltou à sua vila donde sairá com destino a Pernambuco. Em 1854 e 1865 o jovem Tobias, para sobreviver, deu aulas particulares de diversas matérias. Na ocasião prestou concurso para a cadeira de latim no Ginásio Pernambucano, sem conseguir, contudo, a desejada nomeação. Em 1867 disputou a vaga de Filosofia no referido estabelecimento. Venceu o prélio em primeiro lugar, mas é preterido mais uma vez por outro candidato. Para ocupar o tempo entrega-se com afinco à leitura dos evolucionistas estrangeiros, sobretudo o alemão Ernest Haeckel que se tornaria um dos mais famosos cientistas da época com seus livros Os Enigmas do Universo e As Maravilhas da Vida. No campo das produções poéticas passou Tobias a competir com o poeta baiano Antônio de Castro Alves, a quem superava, contudo, no lastro cultural. O fato de ser mestiço prejudicou-lhe a vida amorosa numa época cheia de preconceitos, conforme testemunho de Sílvio Romero. Na oratória Tobias se revelava um mestre, qualquer que fosse o tema escolhido para debate. O estudo da Filosofia empolgava o sergipano que nos jornais universitários publicou Tomás de Aquino,Teologia e Teodicéia não são ciências, Jules Simon, etc. Ainda antes de concluir o curso de Direito casou-se com a filha de um coronel do interior, proprietário de engenhos no município de Escada. Eleito para a Assembléia Provincial não conseguiu progredir na política local. Dedicou vários anos a aprofundar-se no estudo do alemão, para poder ler no original alguns dos ensaístas germânicos, à frente deles Ernest Haeckel e Ludwig Büchner”. Conta Hermes Lima, em sua magnífica biografia de Tobias, que ele “para irritar o burguês, com uma nota mais ostensiva de superioridade, abria freqüentemente seu luminoso leque de pavão: o germanismo”. Foi em alemão que Tobias redigiu oDeutscher Kampfer (O lutador alemão). Mais tarde sairiam de sua pena os Estudos Alemães. A residência em Escada durou cerca de dez anos. Ao voltar ao Recife, aos escassos proventos que recebia juntaram-se os problemas de saúde que acabaram por impedí-lo de sair de casa. Tentou uma viagem à Europa para restabelecer-se fisicamente. Faltavam-lhe os recursos financeiros para isso. Em Recife abriram-se subscrições para ajudá-lo a custear-lhe as despesas. Em 1889 estava praticamente desesperado. Uma semana antes de morrer enviou uma carta a Sílvio Romero solicitando, angustiosamente, que lhe enviasse o dinheiro das contribuições que haviam sido feitas até 19 de junho daquele ano. Sete dias mais tarde falecia, hospedado na casa de um amigo. A obra de Tobias é de significativo valor, levando em conta que o professor sergipano não chegou a conhecer a capital do Império. Suas Obras Completas, editadas pelo Instituto Nacional do Livro, incluem os seguintes títulos:Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica, 1875. Brasilien, wie es ist, 1876. Ensaio de pré-história da literatura alemã. Filosofia e Crítica. Estudos Alemães, 1879. Dias e Noites, 1881. Polêmicas, 1901. Discursos, 1887. Menores e Loucos, 1884. Hermes Lima, ao comentar o refúgio de Tobias Barreto em Escada, esclareceu: “Em Escada, além de publicar o Fundamento do Direito de Punir, erige o germanismo em caminho de cultura. É onde aprofunda seu Haeckel, onde elabora sua posição filosófica, onde traça as coordenadas da revolução espiritual que viria a deflagrar-se no país”.

11 julho 2020

O poema nosso de cada dia - Metade - Oswaldo Montenegro



Metade

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
a outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
pois metade de mim é partida
a outra metade é saudade.
Quer as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
pois metade de mim é o que ouço
a outra metade é o que calo
Que a minha vontade de ir embora
se transforme na calma e paz que mereço
que a tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
a outra metade um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
pois metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o seu silêncio me fale cada vez mais
pois metade de mim é abrigo
a outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma resposta
mesmo que ela mesma não saiba
e que ninguém a tente complicar
pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
pois metade de mim é platéia
a outra metade é canção.
Que a minha loucura seja perdoada
pois metade de mim é amor
e a outra metade também
(Oswaldo Montenegro)