'Guru ideológico' de Bolsonaro, Olavo de Carvalho já se envolveu em diversas intrigas com membros do governo, mas o presidente continua ligado a ele
Em um governo marcado por inúmeras
polêmicas, um personagem tem se destacado ao protagonizar boa parte delas. Sem
nem sequer ocupar um cargo na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL), Olavo
de Carvalho já acumula uma infinidade de interferências e bate-bocas em menos
de cinco meses de governo. Mas afinal, quem é Olavo de Carvalho?
Nascido em Campinas, no interior de
São Paulo em 1947, ele se define como “apenas um véio lôco” em seu perfil no
Facebook, e diz também que é “lôco o bastante para ser sincero”. Desbocado e
pavio curto, Olavo de Carvalho defende Bolsonaro, mas usa sua
sinceridade para criticar quem cerca o presidente.
Apesar de se auto-denominar filósofo,
ele nunca se formou e não tem nenhum diploma universitário, ainda que tenha
chegado a estudar filosofia na PUC-Rio. Olavo já trabalhou como jornalista em
diversos jornais do País – apesar de hoje grande parte de suas críticas
serem destinadas à imprensa. É astrólogo, ministra cursos que misturam
filosofia, política e esoterismo e tem mais de 30 livros publicados.
Um dos quais estava em cima da mesa de Jair Bolsonaro durante
a transmissão ao vivo nas redes sociais que o político fez assim que se elegeu
presidente, em outubro de 2018. A presença de “O mínimo que você precisa saber
para não ser um idiota” no primeiro pronunciamento do presidente eleito era a
confirmação da relação próxima do ideólogo com Bolsonaro e um prenúncio de sua
participação no governo. Bolsonaro e seus filhos são
fãs declarados de Olavo. Os quatro se inspiram em suas ideias conservadoras.
Mas, apesar de atualmente ser uma referência da direita, o ensaísta já foi
filiado ao Partido Comunista durante o período da ditadura militar, regime que
combateu.
Polêmicas e indicações Até agora, a atuação de Olavo no governo Bolsonaro foi bastante contundente, ainda que informal. Ele afirma que foi convidado para assumir o Ministério da Educação mas, após recusar, indicou Ricardo Vélez Rodrígues para o cargo. Além dele, o escritor também foi responsável pela indicação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, do substituto de Vélez, Abraham Weintraub, e de alguns servidores de outros escalões.
Logo após a
indicação de Vélez e dos servidores, no entanto, ele também contribuiu para a queda dos mesmos . Olavo trocou farpas com Vélez
quando ele ainda ocupava o cargo, chamando o então ministro de tucano, em
referência à política do PSDB.
Olavo,
porém, negou ter pedido a saída de Vélez. "Não quero
derrubar ministro nenhum. Apenas apresentei pessoas, sem a menor pretensão de
influenciá-las (sei que isto é inimaginável para o pessoal da mídia, para quem
influenciar é orgasmo). O ministério é do Vélez. Que o enfie no c*",
escreveu no Twitter.
Na mesma
época, ele também justificou suas outras indicações e pediu que seus alunos deixassem o governo .
"Jamais gostei da ideia de meus alunos ocuparem cargos no governo, mas,
como eles se entusiasmaram com a ascensão do Bolsonaro e imaginaram que em
determinados postos poderiam fazer algo de bom pelo país, achei cruel destruir
essa ilusão num primeiro momento".
Essa está
longe de ser a única polêmica protagonizada por Olavo de Carvalho. Ele não
poupa críticas à ala militar e chegou a profetizar que o governo não duraria seis meses em
função da equipe que cerca o presidente, majoritariamente composta por membros
das Forças Armadas.
Representante
máximo da influência militar no governo Bolsonaro, o vice-presidente, general Hamilton
Mourão , já discutiu por meio da imprensa e de redes
sociais com Olavo diversas vezes. Em uma ocasião, o escritor apareceu em um
vídeo no canal de Jair Bolsonaro condenando os militares e as escolas geridas
pelas Forças Armadas. Mourão respondeu que ele deveria se limitar à função de
astrólogo ao que Olavo retrucou : "Coisa de moleque
analfabeto".
Por vezes,
Carlos Bolsonaro se junta ao escritor contra Mourão, e Olavo devolve a cortesia . O ápice do desacordo
aconteceu quando o ideólogo incentivou o deputado e pastor Marco Feliciano a
pedir o impeachment do vice.
Em um
episódio mais recente, o ideólogo chamou o general Villas Bôas, ex-comandante
do Exército, de “ doente preso a cadeira de rodas ”. A fala foi uma
resposta à declaração de Villas Bôas de que Olavo estaria
“prestando um enorme desserviço ao País”, e foi duramente reprimida por
representantes da oposição e da base aliada do governo.
Outros que
não escaparam dos ataques do guru do presidente foram o general Santos Cruz , ministro-chefe da Secretaria de
Governo, o governador de São Paulo, João Doria , e o pastor Silas Malafaia , ambos apoiadores de Bolsonaro.
Subserviência de Bolsonaro Em meio a tantas confusões, Bolsonaro tenta colocar panos quentes. O presidente já afirmou que não há divisão no governo entre militares e “olavetes”. Ele também ofereceu a mesma condecoração a Mourão e a Olavo de Carvalho.
O escritor foi um dos convidados a
participar do jantar oferecido na casa do embaixador brasileiro durante a
primeira visita de Bolsonaro aos Estados Unidos, país onde Olavo reside. O
pensador vive em Richmond, no estado da Virgínia, que fica na costa leste do
país, perto da capital Washington.
Ele se mudou para o país
norte-americano em 2005 e chegou a afirmar que o fez em função do governo Lula.
De lá, ele ministra seus cursos à distância e preside o Inter-american
Institute for Philosophy, Government, and Social Thought (IAI - Instituto Interamericano
para Filosofia, Governo e Pensamento Social, em tradução livre), uma
organização de estudos sociais e políticos.
Apesar de supostamente ter negado
cargos no governo, Olavo já disse qual posição gostaria de ocupar: embaixador do Brasil nos Estados Unidos . O cargo, no
entanto, ainda não lhe foi oferecido.
Sua interferência na política
brasileira não incomoda apenas Mourão. Muitos outros congressistas da base
aliada, incluindo os fiéis Alexandre Frota (PSL-SP) e Carla Zambelli (PSL-SP), já questionaram sua participação
no governo.
Mesmo com todas as polêmicas,
especialistas têm dificuldade de entender porquê Bolsonaro continua se fazendo
refém de Olavo de Carvalho – ainda que ele negue o termo "guru" e
afirme que não há interferência no governo .
O escritor é popular nas redes
sociais, com 718 mil inscritos em seu canal no youtube, 579 seguidores no
Facebook, 617 mil seguidores no Twitter. Mas a popularidade do presidente independe
de Olavo, Bolsonaro é muito maior.
Muitos depositam as amarras de
Bolsonaro a Olavo na conta dos filhos, principalmente Eduardo e Carlos Bolsonaro . Os dois são fiéis seguidores do guru e
não medem esforços para defendê-lo. Em troca, Olavo retribui a admiração e já
até sugeriu que os três filhos do presidente virassem ministros .
A atuação de Olavo de
Carvalho na gestão de Bolsonaro começou antes mesmo da posse do novo
presidente, mas sua participação futura é incerta. Cinco intensos meses depois
do início do governo, ele se revoltou e declarou esta semana: “ não me meto mais na política brasileira ".
Postado originalmente no Último Segundo >>>
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